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Economia circular, meio ambiente e renda: o impacto do projeto Ciclo ReFeito

Como o projeto une sustentabilidade e renda para mulheres da região da Gamboa por meio da ressignificação de resíduos têxteis.


A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo. Globalmente, estima-se que sejam geradas cerca de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano, segundo o Boston Consulting Group. No Brasil, esse número ultrapassa 4 milhões de toneladas anuais, representando aproximadamente 5% de todos os resíduos produzidos no país, de acordo com a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais). Segundo levantamento da USP, cada domicílio brasileiro descartou cerca de 44 quilos de roupas e calçados em 2023 — e o setor têxtil pode ser responsável por até 8% das emissões de gases de efeito estufa no mundo. Infelizmente, menos de 1% desses resíduos é reciclado em novos materiais têxteis — a maioria é incinerada, aterrada ou descartada de forma inadequada (ONU, 2024).
Um exemplo alarmante desse problema é o deserto do Atacama, no Chile, que se tornou um dos maiores depósitos de lixo têxtil do mundo. Anualmente, cerca de 40 mil toneladas de roupas, principalmente de marcas de fast fashion, são descartadas na região, criando verdadeiras montanhas de resíduos visíveis até do espaço (BBC).

Esse cenário tem gerado reações de diferentes iniciativas ao redor do mundo. Um exemplo inspirador é o movimento Fashion Revolution Brasil, que durante a Semana Fashion 2024 lançou um e-commerce experimental com roupas descartadas no deserto do Atacama. As peças — em ótimo estado — foram distribuídas gratuitamente, com o consumidor pagando apenas o frete. A ação, que teve caráter temporário, buscou chamar atenção para a lógica de descarte da indústria da moda e promover um consumo mais consciente. Hoje, o movimento segue com ações de mobilização e educação para uma moda circular e justa.

Durante a Semana do Meio Ambiente, refletimos sobre como pequenas ações podem gerar grandes impactos — não só para a natureza, mas também para as pessoas. No Instituto Cury, acreditamos que a sustentabilidade vai muito além da reciclagem: ela passa por uma mudança de lógica. É sobre reaproveitar, reconectar e ressignificar. E o projeto Ciclo ReFeito é um exemplo potente disso.

Desenvolvido em parceria com o Instituto Entre o Céu e a Favela, o Ciclo ReFeito oferece aulas gratuitas de costura para mulheres da região da Gamboa (Rio de Janeiro) e entorno, com foco na geração de renda e autonomia financeira. Mas o diferencial do projeto está no uso do upcycling — prática sustentável que consiste em transformar materiais descartados ou sem uso em novos produtos de maior valor agregado. Diferente da reciclagem tradicional, que pode degradar a qualidade do material, o upcycling melhora suas características, resultando em itens únicos e de alta qualidade. No contexto da moda, isso significa reaproveitar tecidos e roupas antigas para criar novas peças, reduzindo o desperdício e a demanda por recursos naturais.

No projeto, as alunas trabalham com resíduos têxteis — materiais que seriam descartados — para criar novos produtos. Esses tecidos vêm dos uniformes da própria Cury Construtora, de doações de parceiros e do bazar permanente mantido no Instituto Entre o Céu e a Favela. São materiais que, ao invés de irem para aterros sanitários, ganham nova vida nas mãos das alunas, sendo convertidos em brindes e peças com valor, história e propósito.

Vale lembrar que, mesmo em iniciativas como essa, é essencial praticar a doação consciente: roupas rasgadas, sujas ou sem condições de uso não devem ser destinadas a bazares ou campanhas solidárias. Além de não servirem para reutilização, estes itens exigem triagem e descarte por quem os recebe. Doar deve ser sempre um ato de respeito e responsabilidade.

E a circularidade vai além: “a proposta é que, ao final do curso, as mulheres formem um coletivo de costura e possam atuar como fornecedoras parceiras da Cury, produzindo brindes e itens institucionais para ações internas e eventos da empresa, bem como de outras empresas que quiserem se unir a este movimento. A Cury será uma das clientes desse coletivo — mas o objetivo é que essas mulheres desenvolvam autonomia e capacidade de expandir sua atuação para além dessa parceria, criando seus próprios caminhos de renda e crescimento profissional”, afirma Luciana Kamimura, Gerente Executiva do Instituto Cury.

O que era resíduo vira recurso. O que era sobra vira renda. O que era descarte vira oportunidade.

Projetos como o Ciclo ReFeito mostram que é possível construir ciclos virtuosos que geram impacto social e ambiental ao mesmo tempo. E reforçam um princípio que nos guia: cuidar do meio ambiente também é cuidar de quem está na ponta.

“Esse projeto me toca por estar ajudando outras mulheres. Eu sou neta de costureira, filha de costureira, venho de uma família de artesãs nordestinas — até me emociona falar, porque cresci vendo a mudança de história da minha família. E mais tarde, também tive a oportunidade de mudar a minha história quando aprendi costura e me aprofundei no universo da moda. Isso me deu liberdade de acompanhar mais de perto o crescimento da minha filha, de aproveitar sua infância enquanto eu trabalhava”, relata Rosineide Almeida, professora do projeto Ciclo ReFeito.

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