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Paradesporto: quando o esporte amplia vozes, pertencimento e oportunidades

Falar sobre inclusão é falar sobre presença, nos espaços, nas decisões, nas oportunidades e nos sonhos. No Brasil, mais de 18,6 milhões de pessoas vivem com algum tipo de deficiência, segundo o Censo 2022 do IBGE. Apesar desse número expressivo, muitas dessas pessoas ainda enfrentam desafios que vão além da acessibilidade física: faltam visibilidade, acesso e reconhecimento de suas potencialidades.

No universo esportivo, essas barreiras começam a ser rompidas pelo paradesporto, que tem se consolidado como uma ferramenta potente de inclusão e mobilidade social. Quando uma pessoa com deficiência chega ao esporte, ela também conquista saúde, autoestima, disciplina, socialização e pertencimento, pilares fundamentais para o desenvolvimento humano.

Mas ainda há um longo caminho a percorrer. Dados do Comitê Paralímpico Brasileiro (2024) indicam que o país conta com mais de 100 mil atletas com deficiência, mas a maior parte deles não têm infraestrutura contínua, apoio técnico ou acompanhamento profissional. Por isso, iniciativas locais e comunitárias têm um papel essencial para ampliar esse alcance e garantir que o esporte seja, de fato, para todos.

Quando o esporte é ponte: o exemplo de Thomaz e do Respeita o Corre

Na Vila Olímpica da Gamboa, zona central do Rio de Janeiro, o nosso projeto Respeita o Corre oferece aulas gratuitas de iniciação ao atletismo para pessoas com e sem deficiência. A proposta vai além da atividade física: o esporte é utilizado como instrumento de inclusão, saúde e pertencimento. Cada treino é um espaço de convivência, troca e reconhecimento das diferenças como parte da coletividade.

Entre os atletas que inspiram o grupo está Thomaz Moraes, paratleta de alto rendimento e padrinho do projeto. No final de setembro, ele conquistou a medalha de prata no Mundial de Atletismo Paralímpico em Nova Déli, na Índia. Sempre que possível, ele treina lado a lado com os alunos do Respeita o Corre. Sua presença não é apenas simbólica, mostra, na prática, que o esporte abre caminhos e que a determinação, somada ao apoio coletivo, impulsiona qualquer pessoa a ir mais longe.

Com uma trajetória marcada por conquistas, Thomaz representa o potencial do esporte inclusivo brasileiro: bronze nos Jogos Paralímpicos Paris 2024, bicampeão mundial júnior, prata em Tóquio 2020, ouro no Parapan-Americano e vice-campeão mundial.

— Thomaz, paratleta e padrinho do projeto Respeita o Corre.

O exemplo de Thomaz reforça a importância de projetos que garantem acesso, visibilidade e oportunidades para pessoas com deficiência. No Respeita o Corre, cada treino é um passo rumo a um presente onde o esporte é de todos, e cada conquista, individual ou coletiva, amplia as possibilidades de quem acredita em si e no poder do grupo.

A convivência que gera pertencimento

Quando pessoas com e sem deficiência compartilham o mesmo espaço, o impacto é imediato: cresce a empatia, a cooperação e a percepção de que a inclusão é uma via de mão dupla. O esporte se torna uma linguagem universal, capaz de unir, ensinar e inspirar.

É por isso que o Respeita o Corre, em parceria com o Instituto Athlon, nasceu da escuta ativa do território. A iniciativa nasceu da escuta da comunidade e responde ao desejo por espaços seguros de desenvolvimento físico e emocional, especialmente para jovens em contextos de vulnerabilidade. Atualmente, o projeto atende crianças (a partir dos 6 anos), adolescentes, adultos e idosos, promovendo a convivência entre pessoas com diferentes habilidades e histórias de vida.

— Fabio Dias, coordenador do projeto Respeita o Corre.

Cada treino é também um exercício de cidadania e de reconhecimento de potencial. Ao ver atletas de alto rendimento correndo ao lado dos alunos, o que se aprende não é só técnica, é confiança. E essa confiança se traduz em oportunidades futuras, seja dentro ou fora das pistas.

Mais do que medalhas: sobre o direito de participar

Estudos internacionais (Sasakawa Sports Foundation, 2025) apontam que aproximadamente 30% dos adultos com deficiência praticam esportes ou atividades físicas pelo menos uma vez por semana. Os motivos vão desde a falta de acessibilidade até a ausência de políticas públicas que incentivem o esporte inclusivo. Esse dado evidencia a importância de iniciativas que criam condições para a prática esportiva desde a infância.

Projetos como o Respeita o Corre são fundamentais para mudar essa realidade. Eles não apenas incentivam o esporte, mas também abrem caminhos de desenvolvimento pessoal e profissional. A presença de atletas de referência, como Thomaz Moraes e Jhulia Santos, amplifica a mensagem de que com apoio, oportunidade e acesso, todos podem fazer parte.

Correr junto por um presente mais inclusivo

Falar sobre paradesporto é falar de visibilidade, da quebra de estigmas e da abertura de novas narrativas. É reconhecer que o talento não está limitado por uma condição, mas potencializado quando o acesso é garantido.

No Instituto Cury, acreditamos que o esporte é um instrumento poderoso de inclusão e mobilidade social. O Respeita o Corre é um exemplo vivo disso: um projeto que escuta o território, forma vínculos e amplia horizontes, dentro e fora da pista.

Porque quando todos correm juntos, ninguém fica para trás.

Alunos do Projeto Respeita o Corre representando o time Rio de Janeiro nas Paralimpíadas Escolares (novembro/2025)