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Mulheres e Poder: como o acesso a tempo e oportunidades fortalece famílias e territórios

Falar sobre poder é falar sobre escolhas. E quando olhamos para as mulheres brasileiras, essas escolhas muitas vezes são limitadas pela sobrecarga que carregam no dia a dia. Segundo pesquisa do IBGE (2024), as mulheres dedicam em média 21,3 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados com outras pessoas, enquanto os homens dedicam apenas 11 horas, quase metade do tempo. Essa diferença impacta diretamente a participação feminina no mercado de trabalho e no desenvolvimento de novos negócios liderados por elas.

Não à toa, o Brasil tem mais de 11 milhões de mães solo, de acordo com o Instituto Locomotiva (2023). São famílias onde a estrutura é sustentada por uma figura feminina, muitas vezes com o apoio de outras mulheres da família, como avós e tias, que acumulam funções de provedoras, cuidadoras, empreendedoras e donas de casa. Essa sobrecarga é chamada de dupla jornada, e pode se tornar um obstáculo para o crescimento pessoal e profissional dessas pessoas.

“A periferia é composta por muitas mães solo, muitas mães que precisam, de fato, tomar para si uma liderança, um desenvolvimento de uma família, uma responsabilidade muito grande, que muitas vezes abdicam do próprio sonho ou do próprio talento em prol do coletivo, desse primeiro coletivo que é a família.”
Adélia Rodrigues, cofundadora da Gastronomia Periférica

Quando o tempo vira ativo de poder

Tempo é um dos recursos mais valiosos para quem deseja empreender ou se capacitar. No entanto, para milhares de mulheres brasileiras, ele é escasso. Um levantamento da FGV Social (2024) mostra que 48% das mulheres que não estão no mercado de trabalho atribuem a decisão à necessidade de cuidar de filhos ou familiares.

É aqui que políticas públicas, iniciativas comunitárias e projetos sociais fazem a diferença. Quando crianças e adolescentes têm acesso a espaços seguros, as mães podem usar essas horas para estudar, trabalhar ou cuidar de si mesmas, algo que também é essencial para o fortalecimento da autoestima.

Nos territórios onde o Instituto Cury atua, isso se traduz em impacto. Projetos como o Respeita o Corre, em parceria com o Instituto Athlon, oferecem aulas de atletismo gratuitas, criando um espaço seguro de convivência, aprendizado e desenvolvimento, principalmente para crianças e adolescentes com e sem deficiência. Já o Ídolo Social promove o desenvolvimento físico, emocional e social de crianças e adolescentes, de 8 a 16 anos, por meio do basquete. Com turmas mistas em núcleos escolares, oferece aulas gratuitas no contraturno, experiências externas e participação em campeonatos. Todo o processo é acompanhado por equipe técnica, com apoio psicossocial.

Empreendedorismo como caminho de autonomia

Garantir tempo livre é só o primeiro passo, é preciso também criar caminhos para a geração de renda e independência financeira. O empreendedorismo feminino tem crescido no Brasil: hoje, 48% dos novos negócios no país são liderados por mulheres, segundo dados do Sebrae (2024). No entanto, o acesso a crédito, capacitação e redes de apoio ainda é desigual.

É por isso que investimos em projetos de inclusão socioprodutiva voltados para pessoas vulnerabilizadas, prioritariamente mulheres, como:

Sabores do Coletivo
Forma pessoas na área da gastronomia, com foco em eventos e catering. Direcionado prioritariamente a mulheres vulnerabilizadas, o projeto ensina aproveitamento integral de alimentos, combate ao desperdício e fortalece a autoestima. Ao final, as participantes podem formar um coletivo de trabalho e atuar como fornecedoras para eventos, ampliando suas possibilidades de geração de renda.
Parceria: Gastronomia Periférica

ConstruDivas
Oferece formação técnica gratuita em funções da construção civil, como: elétrica, hidráulica, pintura e assentamento de pisos, para mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica. O projeto também prepara o ambiente de trabalho para inclusão de gênero e promove acompanhamento das participantes após o curso.
Parceria: Instituto Mulher em Construção

Ciclo ReFeito
Ensina modelagem e costura com foco em upcycling de resíduos têxteis. As participantes utilizam tecidos que seriam descartados para criar novas peças com valor de mercado, podendo formar coletivo de costura para fornecer para empresas e gerar renda.
Parceria: Instituto Entre o Céu e a Favela

Cada uma dessas iniciativas tem um ponto em comum: ampliar o poder de escolha do público feminino, para que elas possam gerar renda de forma autônoma, fortalecer suas famílias e se tornarem protagonistas das mudanças que querem ver em seus territórios.

Autoestima e rede de apoio

Quando falamos em poder, falamos também em autoestima. Mulheres que acessam oportunidades de formação, criam novos negócios ou conquistam autonomia financeira relatam sentir-se mais confiantes e seguras para tomar decisões.

E nada disso acontece sozinha: é preciso uma rede de apoio que inclui família, comunidade, empresas e organizações sociais. Por isso, seguimos apostando em projetos que conectam educação, esporte e empreendedorismo como motores de desenvolvimento local.

“Acho que o meu recado é sempre fortalecer o coletivo, e se o coletivo for de mulheres, ele vai mais longe ainda.”
— Adélia Rodrigues, cofundadora da Gastronomia Periférica

No fim, falar de mulheres e poder é falar de tempo, renda e autoestima. É reconhecer que quando damos condições para que elas possam escolher, toda a comunidade ganha.

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